08/Janeiro/2003
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Transcrição da Entrevista - PERDOAR É HUMANO Novo livro reforça tese de que o perdão ajuda o organismo a ficar mais fortalecido contra as doenças Perdoar é um verbo importante em crenças como o catolicismo, a doutrina espírita e o budismo. Mas é alvo de interesse em outras áreas. Cientistas, líderes políticos e intelectuais advogam a seu favor. A filósofa Hannah Arendt, por exemplo, considerava-o "a chave para a ação e a liberdade". Agora, o perdão passou também a ser investigado pela medicina. Os vários estudos em andamento seguem a tendência de analisar a influência das emoções na saúde. Perdoar imagina-se, livra o corpo de substâncias que só fazem mal. Essa tese faz parte do livro O poder do perdão(256 págs., R$38,50, W11 Editores), lançado há um mês no Brasil. O autor, o psicólogo americano Frederic Luskin, faz uma ligação entre o bem-estar trazido pelo perdão e a saúde. Luskin afirma que guardar ressentimentos, culpar os outros ou apegar-se às mágoas estimula o organismo a liberar na corrente sanguínea as mesmas substâncias químicas associadas ao stress, que prejudicam o corpo. "Manter rancor faz mal à saúde. Com o tempo, o acúmulo de compostos nocivos gerados por esse sentimento causa danos ao sistema nervoso, ao coração e diminui a imunidade", garantiu Luskin a ISTOÉ. O ato contrário - ou seja, o exercício do perdão -, desencadearia as reações desejadas para a manutenção da saúde, do bem-estar e para o controle das doenças. O especialista apóia suas teorias em trabalhos recentes realizados nas universidades de Wisconsin, Tenessee e Stanford, onde ele dirige o Projeto Perdão, um centro de estudos sobre o assunto. Uma de suas pesquisas foi feita com 260 pessoas. Parte delas foi orientada a perdoar. A outra, não. Depois, o grupo todo foi instruído a alternar atitudes de boa vontade com pensamentos preestabelecidos que trouxessem ressentimentos. Durante o período de fantasias rancorosas, os especialistas verificaram que os indivíduos que não se voltaram para o perdão tiveram aumento na pressão arterial, nos batimentos cardíacos, na tensão muscular e na transpiração. "O estudo mostrou que o ressentimento pode, a curto prazo, estressar o sistema nervoso", conclui Luskin. Outro trabalho do psicólogo indicou que as pessoas mais inclinadas ao perdão sofriam menos enfermidades e tinham menos doenças crônicas diagnosticadas. Apesar dos resultados positivos, os estudos sobre o assunto ainda são embrionários. "Até agora, uma quantidade limitada de pesquisas foi concluída", admite psicólogo Luskin. De fato, um levantamento realizado pelo cardiologista Sérgio Timerman, do Instituto do Coração, revelou que não há estudos conclusivos publicados em revistas médicas importantes. "Não é novidade que a raiva aumenta o stress, fator desencadeante de quadros que pioram a saúde cardiovascular. Mas considero a investigação dos efeitos do perdão uma linha de pesquisa promissora", diz Timerman. Além das recomedações religiosas e acadêmicas, há grupos de discussão que têm no perdão um dos seus principais focos de interesse. O advogado paulista Antoin Khail, 38 anos, é um exemplo da capacidade de mobilização do tema. Há mais de cinco anos ele coordena encontros para discussão sobre o conteúdo do livro Um curso em milagres, febre que começou nos Estados Unidos em 1975 e chegou ao Brasil dez anos depois. O texto, que teria sido psicografado por uma psicóloga americana, aborda o perdão como ferramenta para a transformação interior. Khalil garante que se beneficiou muito quando aprendeu a perdoar. "Entendi que não guardar rancor nos encaminha para a cura. Quando deixei de lado ressentimentos, sumiu uma irritação crônica que tinha nas mãos", assegura. Atualmente, há mais de 40 grupos de discussão sobre o livro no Brasil. Na livraria Nova Era, em Florianópolis, as reuniões são coordenadas por Jorge Brandt, 48 anos, proprietário do local. A técnica em enfermagem Regina Souza, 45 anos, frequentou muitos desse encontros até se libertar de mágoas antigas às quais credita boa parte dos seus problemas de saúde. Nos últimos anos, ela enfrentou dores, depressão, síndrome do pânico e teve o útero retirado. Em 2001, voltou a ter dores fortes e sem diagnóstico no baixo ventre. "Descarreguei no corpo o ódio que sentia por uma médica que diagnosticou em mim um câncer linfático que não existia. Na época, sofri muito e fiquei ressentida", conta. Este ano, o destino colocou novamente Regina diante da mesma médica para pegar os resultados dos exames da irmã, que tinha alguns nódulos na mama. "Tomei coragem e fui lá. No caminho, minha intuição dizia que os exames da minha irmã nada apontariam e que esse era o momento de desfazer tudo o que sentia de ruim pela médica. Chamei-a, contei o que tinha acontecido comigo e disse que finalmente a tinha perdoado. Ela me abraçou e começou a chorar. As dores no corpo sumiram, não estou mais deprimida, rejuvenesci. Acho que o perdão me curou", diz Regina. Remédio - Não guardar mágoas livra o corpo de substâncias que diminuem a imunidade e fazem mal ao coração. |
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