As Três Ovelhas Conflituadas
No Cap. 2 do UCEM, item VI - Medo e conflito pode- se ler:
"5. O medo é sempre um sinal de tensão, surgindo todas às vezes em o que queres conflita com o que fazes”.
Depois, neste mesmo item, o UCEM continua dizendo que:
...a mente e o comportamento estando em desacordo, resultando em uma situação na qual tu estás fazendo o que não queres totalmente fazer.
Isso faz surgir um senso de coerção que usualmente produz fúria e a projeção está propensa a vir em seguida.
Sempre que há medo é porque ainda não escolheste em tua mente.
...e lá, mas pra frente, também diz o que é o conflito e como lidar com ele:
...o conflito é uma expressão de medo...
... Isso só pode ser corrigido através da aceitação de uma meta unificada.
Como o medo é o oposto do amor, só o amor pode fazer com que nossa meta seja unificada,
terminando assim com todos nossos conflitos internos e conseqüentemente com os externos,
pois os externos são apenas reflexos desta condição interior ainda dividida.
Quero refletir sobre três conflitos básicos que se expressam em três tipos de egos:
Vou me permitir um pouco de humor e apelidar estes 3 tipos de:
Ovelha branca, Ovelha negra e Ovelha malhada:
1- A Ovelha branca tem seu comportamento sempre exemplar, comportando-se de maneira adequada e correta, ela oculta, porém, sua identidade secreta de ovelha negra, aquela parte sua que não gosta de "ter que" submeter-se ou esforçar-se a cumprir com seus objetivos chatos, cumprir com suas próprias exigências e altos ideais. Assim sua ovelha negra interior está condenada a ser como um lobo faminto de prazer, ansiar pela preguiça e desejar o lazer. Então ela se rebela, entrando em conflito contra seu comportamento impecável digno de um arrogante dono da verdade, tendo que dar sempre a todos um exemplo da sua superior brancura.
Aprisionada à sua imagem branca ela não está disposta a fazer concessão à sua fome de prazeres ou ainda liberar e assumir seu protesto contra sua própria tirania.
O que fazer?
O ego tem sempre a resposta: Ela deve projetar através do julgamento seu motim e sua fome, em algum bode expiatório, alguém que seja visto por ela como negro, rebelde ou que esteja acintosamente satisfazendo sua fome ou dando mostras de ter muito prazer sem se preocupar como o que é certo ou simplesmente não cumprindo como suas obrigações ou pior, cometendo erros imperdoáveis, desrespeitando regras, demonstrando assim a sua inferioridade negra.
Sua culpa em ser faminta e rebelde é assim projetada lá fora e seu furor intolerável interno toma a forma toma de indignação externa. Sua ira contida, antes inaceitável torna-se agora pura e santa, pois pode ser abertamente sentida como justificada e agora é o outro quem comporta-se externamente de forma negra sendo passível de ser julgado com o veredicto de autêntico culpado, merecedor de castigos.
2 - A Ovelha negra quer ser livre, ela não gosta de sentir-se aprisionada ou assumir compromissos sérios, gosta mais de seduzir e receber afagos e fazer-se querida através de elogios e favores. Ela confia e prefere os relacionamentos condescendentes onde oferece seus préstimos e a sua inestimável cumplicidade para tudo o que não deve se dobrar aos limites caretas da sociedade.
Dentro dela, sua ovelha branca, de dedo em riste, insiste que ela é uma farsa, que sua rebeldia oculta e desculpa sua irresponsabilidade, que ela deveria crescer e tomar jeito e que assim ela nunca irá conquistar seus objetivos maiores e sempre estará merecendo o desrespeito que a si mesmo se dá.
Mas a ovelha negra não está disposta a livrar-se nem de sua área de lazer, nem de sua falta de limite, nem de sua zona de conforto. Ela quer mesmo se livrar de sua ovelha branca interior, a tal chatinha que lhe aporrinha a consciência, principalmente diante de seus insucessos, dos seus planos mirabolantes abandonados e dos fracassos em seus relacionamentos pessoais e profissionais.
O que fazer?
O ego tem sempre a resposta: Existem muitas ovelhas brancas lá fora para servirem de bode expiatório para ela, para serem ridicularizadas como arrogantes através de fofocas sarcásticas e humorísticas, para serem vistas como inimigas políticas. A ovelha negra tem um talento natural para ser da oposição, mas se por ventura ou acaso ela ganha uma eleição, nunca sabe o que fazer com seu poder, que sendo unicamente rebelde, não sabe nem quer se dar o trabalho duro de realizar e servir.
3 - A Ovelha malhada fica em cima do muro observando o equilibro de poder dividido entre suas duas ovelhas: a meio negra e meio branca. Quando a branca vence, ela se submete adequando-se com mau humor. Quando a negra vence ela dá uma desculpa para sua inadequação. A troca constante de papel é sua característica e o resultado é sua falta de autônomia para decidir e tomar uma posição mais firme. Nem é certinha e responsável nem é rebelde, mas está numa zona de reclamações onde o que ela mais diz é: Eu não consigo.
Não consegue porque quer e não quer ao mesmo tempo e, em sua ambiguidade ela se torna dependente de figuras externas mais fortes, aquelas a quem ora ela se submete, ora se rebela com explosões emocionais das quais depois há de se arrepender, chegando a humilhar-se pedindo perdão.
O que fazer?
O ego tem sempre a resposta: Mas neste caso, seu ego também será ambíguo e dirá à pobre Ovelha malhada:
- Depende: Algumas vezes você mesmo deverá assumir a sua culpa e sofrer as conseqüências da própria estupidez.
Mas outras vezes é conveniente culpar o outro dizendo a ele:
- Se você me obriga a fazer algo está me impedindo de ser livre e roubando minha autonomia. Mas se você não me obriga e me deixa sem atenção quando eu não
consigo fazer nada, você não está se importando comigo!
Depois de ler sobre as três ovelhinhas podemos nos perguntar:
- Como fazer para obter uma meta unificada e anular o conflito?
- Como substituir o medo (que toma a forma de conflito e projeção) por um amor consistente, que nos unifique interiormente e se estenda amorosamente em vez
de julgar os irmãos e fazer deles nossos bodes expiatórios?
O UCEM tem a resposta neste mesmo capítulo, mas como hoje eu estou mais pra ovelha negra do que pra branca, vou deixar isto por conta do leitor que por ventura identificou-se com alguma dessas 3 peles e queira se ver livre dela.
Paz
Sérgio Condé
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